Laboratório Experimental de Ciência Cidadã, Cultura Oceânica e Tecnologia
Antropoceno e Vulnerabilidade de Populações Costeiras no Brasil
No início do século XXI, a intensificação das mudanças climáticas e ambientais passou a impactar diretamente os territórios costeiros, onde atualmente vivem cerca de 40% da população mundial - uma porcentagem equivalente a 3 bilhões de pessoas.

Fonte: Conexão Planeta
As Zonas Costeiras possuem uma composição ecológica diversa e são áreas de extrema relevância para a observação do conceito de justiça climática. Já que o aumento da temperatura média da Terra e dos oceanos tem provocado o derretimento das calotas polares, elevando o nível do mar. Entre 2014 e 2023, o ritmo de elevação aumentou mais de 50%, com relação aos anos de 1993 à 2002, passando de 2,13 mm/ano para 4,77 mm/ano.
Esse cenário tem alterado os modos de vida e a permanência das populações costeiras. Como nos casos de Tuvalu, uma nação insular, que está organizando o deslocamento total de sua população devido à elevação do nível do mar, e Veneza que nos últimos anos sofreu com significativas perdas ao seu patrimônio cultural e econômico.

Fonte: BBC News
No Brasil, mais da metade da população reside em até 150 km da costa, dado que aponta a vulnerabilidade desses territórios diante da emergência climática que representa uma policrise. Uma crise composta por múltiplos fatores (ambientais, sociais, econômicos, políticos, de saúde pública e relações internacionais) que se retroalimentam, e se manifestam de diferentes formas e gravidades em cada território, em suas diferentes escalas.
Pandemia, seca, inundações, tempestades e incêndios florestais de proporções gigantescas, ameaças de uma terceira guerra mundial — quão rapidamente nos acostumamos a essa lista de choques. Tanto que, de tempos em tempos, vale a pena parar e refletir sobre a estranheza da nossa situação. Adam Tooze
Essas grandes transformações compõem um período que está sendo chamado como Antropoceno: uma nova era geológica, caracterizada pela capacidade humana de transformar profundamente os sistemas naturais do planeta, da superfície ao subsolo, dos oceanos aos ciclos biogeoquímicos.
Embora o Antropoceno ainda não tenha a validação da Associação Internacional de Estratigrafia, como marco geológico, o termo tem sido amplamente utilizado para descrever a intensidade e velocidade das transformações provocadas pela ação humana, especialmente após a Revolução Industrial e com aceleração notável ocorrida na segunda metade do século XX.
Transformações que tem revelado a importância de discutir os conceitos básicos da ecologia de populações humanas: resiliência, vulnerabilidade e adaptação - principalmente para as populações tradicionais que pouco contribuíram para a degradação ambiental ao longo da história da civilização contemporânea e são as mais prejudicadas atualmente.

| Erosão costeira em Atafona, RJ | Fonte: Universidade Federal Fluminense |
Características sociodemográficas, como: raça, escolaridade, renda e saneamento, estão intriscemante relacionadas a vulnerabilidade das populações costeiras. Atualmente, a maioria dessa população global já está vulnerável e segregada, com poucas ferramentas para lidar com as transformações em curso. O que significa que os já vulnerabilizados tendem a se tornar ainda mais vulnerabilizados aos riscos já existentes, e os novos que deverão surgir.
Ou seja, não estamos todos “no mesmo barco”, mas sim “na mesma tempestade”: alguns em transatlânticos e outros sem boias, evidenciando a desigualdade na capacidade de enfrentar os desafios das zonas costeiras no mundo atual.
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